domingo, 21 de dezembro de 2008

Um Outro Poeminha Bem Clichê

Se é pra falar de você

Toda forma tem ar de clichê

Os versos, frente -e verso,

Nunca dizem porquê

E caio sempre num dizer sem dizer


Rimar dor com amor

Depois mel, céu e fel

Só me traz a certeza de que

Essa história de eu mais você

Já não tem mais nenhuma fineza


Se era rico, agora é pobre

Se era livre, ficou preso ao cobre

Uma métrica mal planejada

Se estendeu pela mão calejada

Mas não deu divisão nada heróica


Ponto, vírgula ou reticências

Nada entrava no lugar correto

Hoje exclamo que o amor não dá certo

E questiono sua ortografia

Percebendo sua falta de nexo


Construído no lugar-comum

Veio um, e mais um, e mais um

Acabado por ser mais nenhum

Desgraçado por ter quer rimar

Dor com dor, mel com fel, dar e amar

terça-feira, 24 de junho de 2008

Fizesse Silêncio

Fizesse silêncio

ao invés de dizer o que não se dá pra dizer;

Por contrários dizer o que pulsa,

entortando o sentido

que se mantem aceso na pouca brasa

que parece restar.


Fizesse silêncio

e não cantasse outras canções,

pois as melodias são feias como feio não é

o sentido que se esconde,

como se a voz fosse rouca

e o ouvido tapado.


Fizesse silêncio

e assim impedisse o rufar de um tambor

que acelera as correntes

e quase quebra as costelas

quando o sangue ainda é quente

e o passado é de guerra.


Fizesse silêncio

se soubesse que o tempo é sábio

e se por tanto não esquece

é porque se merece:

outra folha se arranca

e mais próximo se está.


Fizesse silêncio

para não arriscar ser ouvido

pois no mundo há aquele

que aguarda escondido

pra saber meio torto

do que resta sentido.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

some sort of pray

it's either you or me

though now you and me seem to be the same

there's no longer someone when I think about some you

there's only me looking for myself


even if I'm quiet and lonely

there's always a part of me that says something

something I can't hear, something I can't feel

deep within me it feels like a winter day


time goes by and by and by

I buy my cigarretes but it gets me dry

I'm a cloud of smoking anguish

I'm a lost boy at some beauty pageant


I'll never be the hottest one

I'll never be the genious I've dreamed

I'm only this and it has to be enough

I'm no model, no princess, nor queen


so take my hand if only for this night

hold me tight but don't kiss me goodnight

you can't be my saviour, my knight in armour

be you and only you and I'll forget about me

terça-feira, 6 de maio de 2008

Poema Outonal

Por um instante no agora
desfaço-me das faltas passadas
E desapego-me das nossas horas

Corro em praias de concreto e luz
Sinto, em meu rosto, o toque do vento e da fumaça
E ouço as canções das buzinas e das folhas que caem

Vivendo o outono desses dias
sei do tempo de um inverno que virá
Então guardo os meus pertences em seus baús

Por um instante no além
agarro-me ao possível de agora
e giro no mundo vivo dos que virão

sexta-feira, 28 de março de 2008

Mensagem para quem for

A quem possa interessar:
- Venha logo, venha breve,
pois essa espera me enxarca os olhos
e me sufoca o peito.
Seja quem for, só esteja pronto.
Eu já estou.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Ex-passo

A distância é o mais próximo

que tenho

dos meus pertos.

terça-feira, 18 de março de 2008

pq

eu, aqui, entre armações de concreto
que concretizam mais ausências que verdades,
entre o não e o cinza
entre um dia e uma nota triste,
entro em um espaço de dois

você, aí, entre o céu e o eterno
soprado de um vento que diz de ondas,
quente e solar
- onde o sol primeiro chega
pra depois aqui dizer que sim,
te viu e te cuida -
entra em um espaço de dois

teu corpo caminha passos que para virem a mim são contra os meus e por isso e mais acompanham os meus:
para andar comigo vai em outra direção
e na outra mão, de passos próprios, te acompanho a me acompanhar
e apanho rosas para soar medíocre e vez e mais inoportuno

e sinto falta de sentir próximo ao meu teu peito cheio de um coração que bate e soa sempre um nome que sei meu
sinto falta dos teus lábios que se abrem sempre para cantar um nome que sei será o meu
falta dos teus olhos que, ao olhar, procuram sempre os meus
para se deitarem calmos e firmes mas tomados da incerteza que é ser amado,
do paranóico estado que envolve o espírito como venda em cabras-cegas

me amo menos se te amo mais porque o amor que te dedico não é salvador:
é terrível e vilão, capaz de me afastar de mim e do mundo mas quem sou mim? e quem és mundo?
meu mundo, teu mundo, imundo e descrente invadido por ódios, aplausos, descasos e impáfias
odeio teu cheiro, odeio teu sexo, teu gosto, teu corpo invadindo o meu
“se afasta” eu te peço numa oração que queima a garganta e mais não se grita nem sussurra nem importuna ou pede o que quer que seja
abraço o travesseiro e suicido o coração
se é lá que você se encontra agora, te tiro o ar, mas não te tiro de lá
não te tiro do meu, não te tiro do nós
e mais me atiro, porque já sou pó, por que já sou teu
por que te espero mas não mais.

quinta-feira, 6 de março de 2008

De chamas e velas

Existem as velas e existem os incêndios. A vela tem uma pequena chama. O incêndio tem suas grandes labaredas. A chama da vela é o bastante para que se ilumine um quarto. As labaredas do incêndio são suficientes para que se destruam todas as casas.

Já tive casas destruídas pelas labaredas de um incêndio. Um fogo tão alto que me reduziu a cinzas. O clarão do incêndio é o da intensidade que escurece a visão. Seu calor queima e fere. Sua força é proporcional à sua duração. No fim, sobram as cinzas e pouco mais.

Ergui um quarto de escuridão desde o último incêndio. Havia nele restos de outros idos que não eram vistos no escuro que era o quarto. Então alguém entrou, e trouxe para ali uma vela. Sua chama tão frágil e clara era o que bastava para iluminar meu pequeno quarto escuro. E sua pouca luz me fez ver aquilo que ainda estava ali. Os contornos, no equilíbrio de sombra e luz, me traziam para o olhar o que há muito acreditava estar perdido. Sem a força da luz que cega, pude olhar para o que estava ali, em mim ainda, e pude ver o quanto de beleza se escondia entre as sombras que agora eu via.

Mas uma vela tem algo de especial. É forte para iluminar sem machucar a vista. É frágil que um pouco vento a faz estremecer. E a seu tempo se consumirá. É impreciso o tempo de uma vela. Mas é preciso que se proteja sua chama.

Então um vento se fez soprar. E não sei se sua chama, tão clara e frágil, não se vê quase a se apagar. Ou se a vela, tão pequena, já não se vê quase toda consumida. Entendo a luz que nesse quarto escuro chegou. E agora busco entender o que se vai. Ou a vela está perto de seu fim. Ou a chama está quase a apagar. Se um, que seu tempo se faça. Se outro, que as janelas se abram para o vento soprar. Ou que as mãos se unam para a chama proteger.

Um ou outros, não cabe só a mim cuidar.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O Mar é tão Seco quanto o Deserto

o mar é tão seco quanto o deserto


Molho-me na areia da solidão

Um deserto é cheio de pequenos grãos

Como cheia é de gente essa cidade


O mar que transborda de mim

e o sal que vaza dos meus olhos

aumentam a sede que inunda minha boca


o mar é tão seco quanto o deserto


As ondas em movimento

Atingem a costa que se faz peito

e arranham o pouco ar que me afoga


As dunas se movimentam

e os ventos meu fôlego tiram

E encharcam de peso meus pensamentos


o mar é tão seco quanto o deserto


O sol estende o horizonte

E o ar esquenta a minha fronte

Nadando por secas praias


A lua me banha os dias

E as noites não são mais frias

que os passos que dou na areia


o mar é tão seco quanto o deserto


Acordo afogado em brasas

Afundo batendo as asas

Pescado no desespero


Um oásis por entre as ondas

Uma ilha onde a areia aponta

Onde encontro um de mim mais forte


Se a lua banhasse a terra

e as estrelas guiassem a vera

Meu astro seria eu


mas o mar é tão seco quanto o deserto

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

2ª Pessoa

Não habita em mim um desejo incontido de te ter aqui;

Encontro em mim uma saudade solar,

uma vontade enorme de dividir contigo cada bobagem que me tornei,

contar meus sonhos, meus medos, meus contos ponto-a-ponto;

Deixar em ti um pouco do que fui e serei

enquanto sou quem sou.


Passo os dias angustiado com não-sei-o-quês

Mas se paro e penso em ti

Em pouco uma certeza me aquece

E novamente não estou à frente ou atrás:

apenas estou.


Ontem senti teu cheiro por aí.

Duas vezes.

Caminhava pela rua quando senti um cheiro

que seria qualquer há uma semana

mas, então, já não era;


Reconheço em ti um sabor meu

E, quando contigo, sou mais eu que quando só.

Teus olhos são vivos como o mundo

Tua pele, branca

Teus cabelos tão cheios da confusão que há na tua cabeça

Teus dentes, e os meus

Teus pêlos e os meus

Teu latido me deixa perdido e louco

Teu sopro, teus beijos... Ah, teus beijos!

Tua voz rouca em meu ouvido

Teu cheiro... Ah, teu cheiro!

Me encontrei ao senti-lo na rua

e nas lembranças dele me perdi lembrando de você.


Sei tão pouco de ti,

Ainda sei tão pouco de ti;

Mas já não és só mais um.

Teu sorriso me acalma o peito

Não jogas com o que tens pra dizer

Só dizes, como eu;


“Me encantas”, “eres lindo”,

“I like u”, “love u”,

Tudo num tempo tão próprio,

Um tempo que se estende

E só atende ao pedido de fazer-se verdadeiro.


Tua canção, tua paixão.

Não quero ser maior do que nada que já tens;

Quero ser o novo como és novo para mim,

Como vens criar o novo em mim;

Não quero ser nada além daquilo que vim ser:

Companheiro, ouvido, calor.


Sorrio à menor lembrança tua:

já estás presente.

Te vejo num daqui a pouco,

Em sonhos, em letras, em corpo;

O tempo que se faz de espera é aliado do que há pra se viver.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Rugas

Tenho a impressão que hoje nasceram rugas em minha face
Senti a pele perder a força no mesmo instante em que meu coração perdia um tempo
Minha voz grave tornava silenciosas as luzes que se agitavam ao seu redor
Meu peito se fechava e esvaziava a dor ao perceber que o corpo sofre os impactos da imprudência com mais força e asco que os devaneios adolescentes dos amores de panos de cobrir camas
Sentia que a leveza se mantinha leve, a pureza permanecera pura, a alegria das cores ainda falava
Mas um outro espaço se fizera entre os todos e os tudos
Espaço de gravidade e fundura, nascendo da adolescência e da imprudência
Por que fui tão tolo? O coração se cura, as feridas do afeto cicatrizam, mas quem fecha a dor de não ser mais senhor de seu tempo?
Os fatos são menores, mas o que importa?
Tenho tanto para escrever sobre tantas coisas, mas não escrevo
Às vezes me afogo no meu silêncio
Vezes e vezes morri submerso nessas águas mudas
Em ondas vazias que se quebram na beira de praias de vácuo e lembrança
Não sei quantas vidas restam pra eu desperdiçar nesses naufrágios cheios do meu silêncio que mata
Há dias em que uma coisa acontece
Uma coisa pouca que nem muito tempo toma
E tudo que escrevi ou teria escrito já não tem mais minha caligrafia
Há um dia que redefine todos os que foram
E os que virão
Hoje eu vi as rugas nascendo em meu rosto
E descobri que ainda nada foi descoberto

sábado, 12 de janeiro de 2008

ser pouco

Em luta:
Meio que serpente
Meio que ser ponte,
Pra passar não sei pra onde
Pra picar não sei o quê;
E ao pisar por entre as dores,
esperar não sei por quem

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Um Algo

Um Algo


Há algo em mim que habita o subterrâneo

E, escondido entre os olhos e o pulsar,

Se mantem quieto e calado

Como à espera do instante de ser.


É uma dor cheia de luz,

um prazer vestido de sombras,

Como os que sente a estrela que descobre na manhã

a esperança de uma outra noite que lhe permita brilhar.


Há algo em mim que se esconde e se transmuta,

Que se disfarça e se desculpa,

Que não se quer assumido, nem tão pouco esquecido:

quer-se vivo, mas dormente.


Não me permite dizer seu nome

mas não me resiste se penso em seu tempo.

Não quer estar escrito na fronte

mas não se importa de transparecer num sorriso.


Sua simples existência é como prova do sangue que corre quente em mim

sem se importar com primaveras, outonos ou verões;

Nos invernos, se faz mais forte e desacalma o peito

mas se veste de formas em que não lhe possam identificar.


Há algo em mim que não ouso decifrar,

que não tento entender,

algo em que não quero acreditar,

Mas que, no mais afastado de meu peito,

aguarda calado por um toque que já conheceu

e que, sabe, é o único que poderá aceitar.