Não habita em mim um desejo incontido de te ter aqui;
Encontro em mim uma saudade solar,
uma vontade enorme de dividir contigo cada bobagem que me tornei,
contar meus sonhos, meus medos, meus contos ponto-a-ponto;
Deixar em ti um pouco do que fui e serei
enquanto sou quem sou.
Passo os dias angustiado com não-sei-o-quês
Mas se paro e penso em ti
Em pouco uma certeza me aquece
E novamente não estou à frente ou atrás:
apenas estou.
Ontem senti teu cheiro por aí.
Duas vezes.
Caminhava pela rua quando senti um cheiro
que seria qualquer há uma semana
mas, então, já não era;
Reconheço em ti um sabor meu
E, quando contigo, sou mais eu que quando só.
Teus olhos são vivos como o mundo
Tua pele, branca
Teus cabelos tão cheios da confusão que há na tua cabeça
Teus dentes, e os meus
Teus pêlos e os meus
Teu latido me deixa perdido e louco
Teu sopro, teus beijos... Ah, teus beijos!
Tua voz rouca em meu ouvido
Teu cheiro... Ah, teu cheiro!
Me encontrei ao senti-lo na rua
e nas lembranças dele me perdi lembrando de você.
Sei tão pouco de ti,
Ainda sei tão pouco de ti;
Mas já não és só mais um.
Teu sorriso me acalma o peito
Não jogas com o que tens pra dizer
Só dizes, como eu;
“Me encantas”, “eres lindo”,
“I like u”, “love u”,
Tudo num tempo tão próprio,
Um tempo que se estende
E só atende ao pedido de fazer-se verdadeiro.
Tua canção, tua paixão.
Não quero ser maior do que nada que já tens;
Quero ser o novo como és novo para mim,
Como vens criar o novo em mim;
Não quero ser nada além daquilo que vim ser:
Companheiro, ouvido, calor.
Sorrio à menor lembrança tua:
já estás presente.
Te vejo num daqui a pouco,
Em sonhos, em letras, em corpo;
O tempo que se faz de espera é aliado do que há pra se viver.