sexta-feira, 28 de março de 2008

Mensagem para quem for

A quem possa interessar:
- Venha logo, venha breve,
pois essa espera me enxarca os olhos
e me sufoca o peito.
Seja quem for, só esteja pronto.
Eu já estou.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Ex-passo

A distância é o mais próximo

que tenho

dos meus pertos.

terça-feira, 18 de março de 2008

pq

eu, aqui, entre armações de concreto
que concretizam mais ausências que verdades,
entre o não e o cinza
entre um dia e uma nota triste,
entro em um espaço de dois

você, aí, entre o céu e o eterno
soprado de um vento que diz de ondas,
quente e solar
- onde o sol primeiro chega
pra depois aqui dizer que sim,
te viu e te cuida -
entra em um espaço de dois

teu corpo caminha passos que para virem a mim são contra os meus e por isso e mais acompanham os meus:
para andar comigo vai em outra direção
e na outra mão, de passos próprios, te acompanho a me acompanhar
e apanho rosas para soar medíocre e vez e mais inoportuno

e sinto falta de sentir próximo ao meu teu peito cheio de um coração que bate e soa sempre um nome que sei meu
sinto falta dos teus lábios que se abrem sempre para cantar um nome que sei será o meu
falta dos teus olhos que, ao olhar, procuram sempre os meus
para se deitarem calmos e firmes mas tomados da incerteza que é ser amado,
do paranóico estado que envolve o espírito como venda em cabras-cegas

me amo menos se te amo mais porque o amor que te dedico não é salvador:
é terrível e vilão, capaz de me afastar de mim e do mundo mas quem sou mim? e quem és mundo?
meu mundo, teu mundo, imundo e descrente invadido por ódios, aplausos, descasos e impáfias
odeio teu cheiro, odeio teu sexo, teu gosto, teu corpo invadindo o meu
“se afasta” eu te peço numa oração que queima a garganta e mais não se grita nem sussurra nem importuna ou pede o que quer que seja
abraço o travesseiro e suicido o coração
se é lá que você se encontra agora, te tiro o ar, mas não te tiro de lá
não te tiro do meu, não te tiro do nós
e mais me atiro, porque já sou pó, por que já sou teu
por que te espero mas não mais.

quinta-feira, 6 de março de 2008

De chamas e velas

Existem as velas e existem os incêndios. A vela tem uma pequena chama. O incêndio tem suas grandes labaredas. A chama da vela é o bastante para que se ilumine um quarto. As labaredas do incêndio são suficientes para que se destruam todas as casas.

Já tive casas destruídas pelas labaredas de um incêndio. Um fogo tão alto que me reduziu a cinzas. O clarão do incêndio é o da intensidade que escurece a visão. Seu calor queima e fere. Sua força é proporcional à sua duração. No fim, sobram as cinzas e pouco mais.

Ergui um quarto de escuridão desde o último incêndio. Havia nele restos de outros idos que não eram vistos no escuro que era o quarto. Então alguém entrou, e trouxe para ali uma vela. Sua chama tão frágil e clara era o que bastava para iluminar meu pequeno quarto escuro. E sua pouca luz me fez ver aquilo que ainda estava ali. Os contornos, no equilíbrio de sombra e luz, me traziam para o olhar o que há muito acreditava estar perdido. Sem a força da luz que cega, pude olhar para o que estava ali, em mim ainda, e pude ver o quanto de beleza se escondia entre as sombras que agora eu via.

Mas uma vela tem algo de especial. É forte para iluminar sem machucar a vista. É frágil que um pouco vento a faz estremecer. E a seu tempo se consumirá. É impreciso o tempo de uma vela. Mas é preciso que se proteja sua chama.

Então um vento se fez soprar. E não sei se sua chama, tão clara e frágil, não se vê quase a se apagar. Ou se a vela, tão pequena, já não se vê quase toda consumida. Entendo a luz que nesse quarto escuro chegou. E agora busco entender o que se vai. Ou a vela está perto de seu fim. Ou a chama está quase a apagar. Se um, que seu tempo se faça. Se outro, que as janelas se abram para o vento soprar. Ou que as mãos se unam para a chama proteger.

Um ou outros, não cabe só a mim cuidar.