quinta-feira, 6 de março de 2008

De chamas e velas

Existem as velas e existem os incêndios. A vela tem uma pequena chama. O incêndio tem suas grandes labaredas. A chama da vela é o bastante para que se ilumine um quarto. As labaredas do incêndio são suficientes para que se destruam todas as casas.

Já tive casas destruídas pelas labaredas de um incêndio. Um fogo tão alto que me reduziu a cinzas. O clarão do incêndio é o da intensidade que escurece a visão. Seu calor queima e fere. Sua força é proporcional à sua duração. No fim, sobram as cinzas e pouco mais.

Ergui um quarto de escuridão desde o último incêndio. Havia nele restos de outros idos que não eram vistos no escuro que era o quarto. Então alguém entrou, e trouxe para ali uma vela. Sua chama tão frágil e clara era o que bastava para iluminar meu pequeno quarto escuro. E sua pouca luz me fez ver aquilo que ainda estava ali. Os contornos, no equilíbrio de sombra e luz, me traziam para o olhar o que há muito acreditava estar perdido. Sem a força da luz que cega, pude olhar para o que estava ali, em mim ainda, e pude ver o quanto de beleza se escondia entre as sombras que agora eu via.

Mas uma vela tem algo de especial. É forte para iluminar sem machucar a vista. É frágil que um pouco vento a faz estremecer. E a seu tempo se consumirá. É impreciso o tempo de uma vela. Mas é preciso que se proteja sua chama.

Então um vento se fez soprar. E não sei se sua chama, tão clara e frágil, não se vê quase a se apagar. Ou se a vela, tão pequena, já não se vê quase toda consumida. Entendo a luz que nesse quarto escuro chegou. E agora busco entender o que se vai. Ou a vela está perto de seu fim. Ou a chama está quase a apagar. Se um, que seu tempo se faça. Se outro, que as janelas se abram para o vento soprar. Ou que as mãos se unam para a chama proteger.

Um ou outros, não cabe só a mim cuidar.

2 comentários:

Guilherme Parmegiani disse...

Muito bonito esse texto!!!
Um abraço!

Unknown disse...

Pena não ter lido antes, seus textos são lindos Ledier.
Abraços saudosos!
Angélica.