sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Rugas

Tenho a impressão que hoje nasceram rugas em minha face
Senti a pele perder a força no mesmo instante em que meu coração perdia um tempo
Minha voz grave tornava silenciosas as luzes que se agitavam ao seu redor
Meu peito se fechava e esvaziava a dor ao perceber que o corpo sofre os impactos da imprudência com mais força e asco que os devaneios adolescentes dos amores de panos de cobrir camas
Sentia que a leveza se mantinha leve, a pureza permanecera pura, a alegria das cores ainda falava
Mas um outro espaço se fizera entre os todos e os tudos
Espaço de gravidade e fundura, nascendo da adolescência e da imprudência
Por que fui tão tolo? O coração se cura, as feridas do afeto cicatrizam, mas quem fecha a dor de não ser mais senhor de seu tempo?
Os fatos são menores, mas o que importa?
Tenho tanto para escrever sobre tantas coisas, mas não escrevo
Às vezes me afogo no meu silêncio
Vezes e vezes morri submerso nessas águas mudas
Em ondas vazias que se quebram na beira de praias de vácuo e lembrança
Não sei quantas vidas restam pra eu desperdiçar nesses naufrágios cheios do meu silêncio que mata
Há dias em que uma coisa acontece
Uma coisa pouca que nem muito tempo toma
E tudo que escrevi ou teria escrito já não tem mais minha caligrafia
Há um dia que redefine todos os que foram
E os que virão
Hoje eu vi as rugas nascendo em meu rosto
E descobri que ainda nada foi descoberto

Um comentário:

. disse...

cada palavra escrita alívia uma ruga de preocupação...essa devia ser a lei da natureza!
beso
t.